terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Seu" Josias


Caminhando pela rua Divina Pastora, entre as ruas Capela e Lagarto, “seu” Josias, 61 anos, sentia o cheiro de alho e cebola que se misturava ao ar quente daquele meio-dia de verão. Entrou em dos frege-moscas e pediu um PF de bife acebolado e uma Caracu.

Enquanto aguardava seu pedido, observava o ambiente que ia, aos poucos, carecendo de mesas desocupadas. Os fregueses eram camelôs; representantes de produtos, desses vendidos de porta em porta, que do nada surgem e do nada desaparecem; e gente como ele, que costumava vaguear pelas ruas durante o dia e só ia à casa para dormir. A hora da fome atraía todos aos pequenos restaurantes baratos como insetos que orbitam uma luminária.


Depois do almoço, caminhou pela rua até chegar à av. Carlos Firpo. Seguiu norte, passou pela rua Santa Rosa e entrou à direita na rua seguinte. Sentadas em escadas estreitas mulheres de vida (nada) fácil piscavam o olho ou faziam biquinhos em forma de beijo. Às vezes, faziam as duas coisas ao mesmo tempo, o que as deixavam menos atraente ainda, pois pareciam fazer uma careta.

Ele parou e olhou para uma delas:

- Oi, gatinha, vai por quanto?

- Cinquenta reais.


- Vamos.


Subiram a escada estreita. A mulher, sem dúvida, uma habitué do local, fala para o rapaz no balcão:

- O quartinho com ventilador e banheiro tá desocupado?

- Dez reais “antecipado”.


No quarto, sentado na cama, ele diz:

- Quero apenas um strip-tease. Fique sossegada que pago pelo combinado.

A mulher subiu na cama e tirou o vestido de uma vez. Tirou o sutiã e a calcinha, fingiu estar dançado:

- E agora, o que faço?

- Fique de quatro, rebolando, até eu pegar no sono. Quando completar o tempo do quarto, você me acorda. Não adianta maquinar nada pensando em dar o golpe da “limpeza”. Eu só tinha sessenta reais na carteira mesmo.



Telemerda



As TELEs mudaram de nome, mas continuam todas a mesma MERDA!

domingo, 13 de junho de 2010

Cala a Boca, Galvão!


Uma inusitada campanha no Twitter levou o tópico "Cala a boca Galvão" ao primeiro lugar dos assuntos mais comentados no seviço de microblogging. Até mesmo os gringos, por desconhecimento do idioma, entraram na campanha.

Primeiro, dizia-se que "Cala a boca Galvão" seria um novo hit de Lady gaga. Mas o ápice da piada foi mesmo associar Galvão a uma rara ave brasileira que estaria em extinção. "Cala a boca" seria "save" (salvem) e Galvão seria o nome da tal ave rara. Até mesmo Paulo Coelho postou no seu twitter: "CALA BOCA GALVAO (SILENTIUM GALVANUS); homeopathic drug for apoplexy during soccer matches. No prescription required." [1]. O mais divertido, porém, foi um vídeo "educativo" publicado no YouTube [2], que fala até da matanças dos raros Galvões para retirada das penas para enfeites de fantasias no desfile do carnaval.

Mas como será que Galvão, o locutor, encara a campanha? Ele responde dizendo que "mas se não ouvirem com minha narração, como terá graça a Copa? terão uma Copa sem emoção. então vamos com emoção :)" [3]. Ainda no seu twitter, o narrador encara a campanha e diz : "bem ou mal, falem! mas assistam e torçam comigo :)" [4]. O fato é que, apesar de ter um lado humorístico, a campanha reflete a insatisfação de quem depende da TV aberta apara assisir a um jogo da Copa e é obrigrado a ouvir os trinados desse pássaro raro, criado no cativero da Globo.




[1] http://twitter.com/paulocoelho/status/16015292691
[2] http://www.youtube.com/watch?v=bdTadK9p14A
[3] http://twitter.com/galvaobueno/status/15870391846
[4] http://twitter.com/galvaobueno/status/15871946387

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Uma Manhã de Domingo


Era uma daquelas manhãs de domingo em que tudo que se deseja é dormir até mais tarde. Mas o que seria um sono prolongado foi interrompido, às nove em ponto, pelo som campainha.


O portão de madeira tem uma portinhola que pode ser aberta para ver quem está a chamar. Eram duas mulheres. A mais jovem falou:

- Nós estamos levando a palavra de Deus às casas das pessoas. Você gostaria de ouvir um pensamento da Bíblia?

- Não, obrigado.

Fechei a portinhola. Ainda há tempo para dormir mais, pensei. Posso a qualquer momento ir a uma igreja. Por ora, não preciso do serviço em domicílio.

Estava novamente adormecido quando, mais uma vez toca a campainha. Meio dia e meia. Dormi demais, deveria ter me acordado e levantado mais "cedo" para preparar algo para comer.

Ao abrir a portinhola, está um entregador, de moto, com uma embalagem:

- Seu almoço.

Fiquei, por um momento, aturdido. Mas raciocinei rapidamente. Ele deve ter errado o endereço.

- Quanto foi mesmo o valor total?

- Vinte e nove reais e quarenta centavos.

- Um momento, vou pegar minha carteira.

Voltei e passei trinta reais ao entregador. Peguei a sacola. O Almoço estava garantido. Mas antes mesmo que eu pudesse ver o que tinham pedido para eu almoçar, a campainha toca mais uma vez. Era o entregador novamente. Diabos, pensei, ele deve ter percebido o engano. Que nada:

- Desculpe. Esqueci de entregar o refrigerante.

Almocei e fui dormir. Achei melhor não atender mais aos chamados da campainha.


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Escudo Aéreo


Estava de férias. Ainda dormia quando o telefone tocou. Do outro lado da linha alguém falava apressadamente:

- OS ESTADOS UNIDOS ESTÃO SENDO ATACADOS! OS ESTADOS UNIDOS ESTÃO SENDO ATACADOS!

- Como é que é?

- LIGUE NA CNN! LIGUE NA CNN!

Era um amigo meu que tinha telefonado. Ainda sonolento, liguei a TV na CNN. Lá estava a imagem das torres gêmeas do WTC. Uma delas "fumaçando". O ouvido foi se ajustando aos poucos. A informação era de que um avião tinha atingido uma das torres. Pouco depois, na transmissão ao vivo, vi a outra torre também ser atingida por outro avião. Fiquei literalmente boquiaberto.

Algumas semanas antes eu tinha lido algo sobre Bush Jr. e o projeto de um escudo aéreo para defesa dos Estados Unidos. Mas o ataque veio de dentro: aviões comerciais, sequestrados por pilotos suícidas.

É, não ia ter escudo aéreo que resolvesse um caso desses...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Na Oferta


Depois de fazer o pedido de um sanduiche e um suco de laranja, a caixa pergunta ao cliente:


- Gostaria de comprar na oferta, senhor, com fritas?

- Não, obrigado. Não quero batatas.

- Coca-cola média, não é, senhor?

- Acabei de dizer que era suco de laranja...

- Se o senhor pagar o sanduiche e o suco apenas sai mais caro do que na oferta com fritas.

- Não, obrigado. Não quero batatas.

- Na oferta, o senhor vai pagar menos e ainda tem fritas.

- Não, obrigado. Não quero batatas.

- Vai ficar 75 centavos mais caro do que na oferta com fritas.

- Não, obrigado. Não quero batatas.

- Pode aguardar na mesa que serviremos.

Quando chega a bandeja, lá estão as batatas impertinentes.

- Eu pedi sem batatas. Veja minha nota.

A garçonete olha o comprovante do cliente e diz:

- Ah, mas olha, não tem problema, pode ficar com as fritas.

- Não, obrigado. Não quero batatas.

- Pra devolver é complicado pra mim.

- Não, obrigado. Não quero batatas.

- Mas é de graça as fritas.

- SÃO de graça?

- É, sim.

- Não, obrigado. Não quero batatas.

- Deixe na bandeja mesmo. Se eu levar de volta vai para o lixo do mesmo jeito porque não pode ser devolvido.

- Não PODEM ser DEVOLVIDAS?

- Não...

O cliente levanta-se, pega as "batatas" e vai ao caixa:

- Aceita "fritas" na oferta, SENHORA?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Nikolai


Nikolai, ao pegar a chave do quarto, percebeu que estava no ponto em que o seu corpo já não ia mais resistir ao cansaço. Precisava, todos os seu músculos exigiam, descansar. Talvez ainda resistisse a um banho. Uma refeição, nem pensar. Era melhor dormir logo de uma vez.

Decididamente, o hotel era uma espelunca. Olhou para o chaveiro. A chave era idêntica a essas de abrir lata de kitut. Uma argola a prendia a um pequeno pedaço de madeira, com o número do quarto: 109. Menos mal, ficaria no andar superior, provavelmente mais silencioso.

Subiu as escadas. Sua única bagagem era uma pequena sacola de mão. Era o último quarto do corredor, à esquerda. Girou a chave, que não lhe inspirava confiança alguma, na fechadura e abriu a porta.

Ao entrar, olhou detida e demoradamente o quarto. Apesar da miserabilidade do lugar, estava tudo arrumado. O cheiro de mofo misturava-se ao de algum spray aromático. Não tinha janela. Apenas um pequeno basculhante de ferro, com três vidros, estando um deles quebrado. Finalmente, fechou a porta atrás de si, a única do quarto, pois o banheiro era coletivo. Pode então observar que colado atrás da porta estava um espelho. Era o resto do que um dia fora um espelho retangular, verticalmente disposto. Restava a maior parte dele. Um dos cantos não estava lá. Quebrara-se deixando a marca de sua existência numa diagonal semi-circular.

Nem banho, nem refeição. Deitou-se. Adormeceu.

A claridade que entrava pelo pequeno basculhante tomou-o de sobressalto. Não sabia exatamente que horas seriam, mas parecia ser cedo. Levantou-se e foi ao banheiro para finalmente tomar um banho. O lugar não parecia estar movimentado e demorou-se bastante deixando a água do chuveiro escorrer pelo corpo, enquanto cobria o rosto com as mãos e pensava. O espelho do banheiro, apesar de manchado, estava inteiro. Precisava barbear-se. Tinha esquecido no quarto, na bagagem, seu pequeno barbeador elétrico sem fio e o spray de espuma.

Voltou ao quarto. Ao abrir a porta, sentiu que ela esbarrava em algo. Tentou novamente, dessa vez abriu normal e tomou um susto. Tinha alguém atrás da porta. Estava usando o espelho, espuma na cara, barbeador elétrico na mão. Pensou que tinha entrado no quarto errado, mas o número estava correto, era o 109. Olhou para o outro homem sem entender. De imediato olhou para sua pequena bagagem sobre a cama. Estava aberta.

- Esse é o meu barbeador? Minha espuma?

- Olha, eu estava precisando me barbear e pensei que você não se importaria em me emprestar um pouco de espuma e o seu barbeador...

Afastou-se um pouco, sentiu o ódio esquentando o sangue em suas veias. Deu, então, um único soco no rosto do desconhecido. A força vinda da loucura ou da raiva momentânea superando a que normalmente teria. O desconhecido bate a cabeça no espelho da porta. Mais um pedaço que se quebra. Cai no chão, inerte, desmaiado, talvez morto. Uma pequena marca de sangue na porta. Sangue em sua mão. Viu que tinha cortado um dedo, provavelmente batera nos dentes do desconhecido.

Enrolou a mão com uma camisa e desceu. Pagou a conta e saiu.