sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Faltou Um Estampido

Estrada de chão. Barro e pedregulho. No caminho, vegetação mista, algo entre o agreste e o sertão. Comecei a reconhecer alguns pontos. Estava perto da logoa, onde estavam todos. Talvez tenha me afastado demais a pé, pensei.

Era possível ver ao longe uma ou outra casa. Casas de taipa. Em algumas, estava visível a armação de varas na qual é socado o barro. Sentia o calor queimando o rosto mesmo quando passava pela sombra de uma ou outra árvore de beira de estrada.

Ouço o barulho de pneus. Olho para trás e vejo a nuvem de poeira que se aproxima. Como se não bastasse o calor, penso, agora vou comer muita poeira.

O carro para ao meu lado. Imagino que vai pedir informações. Não conheço bem o local e meu GPS tinha ficado no acampamento. O vidro lateral baixa suavemente. Sinto o ar frio do ar condicionado que escapa e consegue me atingir. Não sou bom em identificar modelos de automóveis...

- Quer uma carona?

O suor que já estava no rosto por causa do calor mistura-se a outro que acabara de chegar. Sensação de extremo alerta percorria o corpo. Estresse. Havia algo errado. Se era apenas uma falsa intuição, não sei. Pronto para recusar, pergunto:

- Para onde está indo?

A resposta confirma que não era louco meu pressentimento:

- Para onde você quiser.

O pensamento é tão rápido. Para descrevê-lo, no entanto, gastamos tanto tempo e, ainda assim, não fica bem descrito. Um sensação que era uma mistura de irritação e pena. Era um homem de meia idade na direção do veículo e eu um rapaz de 19 anos que tinha saído com um grupo de amigos, todos de moto, para acampar à beira de uma lagoa. Como as pessoas se arriscam, eu raciocinava. Pegam qualquer um em uma beira de estrada, sem saber se tem uma arma ou o que poderia fazer. Ou alguém pega uma carona com um desconhecido e não sabe aonde irá.

- Não estou precisando de carona, obrigado.

A pertinência ofusca a piedade. O condutor apalpa a própria bunda:

- Tem certeza? Você não sabe o que está perdendo.

Perdendo tempo, pensei. Responder mais alguma coisa seria partir para a violência. Prossigo na minha caminhada sem dizer mais uma só palavra. O carro parte em alta velocidade. Agora, sim, começo a comer poeira.

Menos de 100 metros depois, ouço um assovio. Era algo familiar, uma música, que sabia ser de algum filme. Procuro institivamente a direção. Parece vir de uma casa de taipa, perto da estrada. Tento a todo custo identificar. Sorrio, pois veio a resposta ao pensamento: "O Dólar Furado"! Era um western a que tinha assistido alguns anos antes. Só não sabia o nome da música. Bem que aquela região seca e poeirenta combinaria com filmes desse estilo. Para completar a cena, talvez tenha faltado apenas um estampido alguns minutos antes...

Finalmente, chego de volta ao acampamento:

- Vocês nem imaginam o que me aconteceu...

2 comentários:

Raíssa N. disse...

Vai me dizer que essa também é ficção...
eu só consegui imaginar um rapaz de aparência jovem e muito bonito, vestido numa camisa vermelha, munido de sua câmera fotográfica, pronto para captar até mesmo o imperceptível da paisagem rica. E eu imagino como o suor faria o cabelo dele ficar molhado e cobrindo só um pedacinho de nada da testa.
E só faltou um Estampido...
E consigo sentir o quanto eu amo esse rapaz que eu imagino. Ele é tão perfeito que parece mesmo que saiu de um Romance ou Conto desses inesquecíveis, que te marcam pra vida toda.

Em pensar que ele poderia ser o próprio autor deste texto... E ainda consegue me fazer sentir tão bem e tranquila apenas por ler algo que escreveu...quase como se estivesse ao meu lado contando a história. Tem que ser genial pra conseguir passar isso em palavras escritas.

Para mim não faltou nada.



Te amo!

Lay disse...

Olha, você realmente comeu poeira! :)
Mas fez bem em não aceitar a carona. Lembro de mim até no shopping ;). Hehe.
Muito engraçado aquilo.