domingo, 11 de janeiro de 2009

Era Dia de Reis


Era dia de reis. A “Ave Maria”, já tinham tocado na igreja. Passava das 18h. Na verdade, ao olhar para o velho relógio da sala, o menino percebeu que faltavam “quinze pras sete”. A impaciência infantil, como se sabe, faz o tempo tornar-se eterno. Sabia que seus avós sairiam pontualmente às “dez pras sete” para ir à missa. Teria de suportar toda a liturgia para que depois pudesse, finalmente, passear no parquinho de Natal. Era o último dia, na pracinha da cidade do interior.

20h. O “vamos em paz e o Senhor nos acompanhe” merecia mais do que um “amém”. Merecia mesmo era um grito de contentamento, um pulinho de alegria. Até palmas merecia. Tudo isso contido em um sorriso. Uma coisa que passava por todo o corpo do menino como um leve choque muito prolongado. Toda aquela energia pueril canalizada para brincar no parquinho. Ele olhou a praça tão iluminada. Nas casas, os presépios e as árvores de Natal cheios de luzes. Tudo em sua volta aumentava o brilho que tinha nos olhos.

- Ah vô eu quero ir na rodagigante quero brincar no carrossel quero ir na barraquinha de tiro!

Tudo era dito num fôlego só, sem pausas.

- Calma, uma coisa de cada vez. Atirar é perigoso para crianças. Vamos comprar o bilhete do carrossel. Depois você vai para a barraca de pescaria pra ver se ganha um brinquedo bonito.

O carrossel tinha cavalos que subiam e desciam enquanto girava. Também, banquinhos que os casais, os que não se achavam mais tão crianças para montar, poderiam sentar e rodar abraçados, naquele afeto que só os apaixonados sentem quando estão juntos.

Na cabeça da criança, a noite era um giro de diversão como no carrossel ou na rodagigante. Ao dormir, o desejo que venha logo o outro dia, em um sono de contentamento. Outros dias de reis virão. Mas a ansiedade vai amenizar. Até que se torne um adulto e a felicidade seja relembrar aquele brilho no olhar em outros olhares infantis.


Nota: este é um texto de ficção.


2 comentários:

Raíssa N. disse...

e você ousa achar que eu me desapontaria!? ousa dizer que é besteira! Aí você humilha!

É tão lindo, de um jeito simples...Uma simplicidade que carrega uma beleza que chega a ser invejável.

E sempre tão real...No primeiro parágrafo já estava me perguntando se era só ficção ou se havia uma inspiração...uma lembrança por trás.

Eu, realmente, te admiro muito! E te amo muito! Mas mesmo se eu não te amasse (o que se tornou obviamente impossível), eu te admiraria muito.

Lay disse...

Puxa, adorei esse texto. Lembra-me alguns dos meus dias de observação por assim dizer... ^^
Realmente lembra a mim ^^.
Belo texto.